quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Especial: Imigração ilegal

Imigração ilegal: um problema mundial
O problema da imigração ilegal volta à tona. A construção de um muro na fronteira com o México, é a cartada dinal dos EUA para diminuir o fluxo migratório entre os dois países. A situação dos mexicanos nos EUA é cada vez mais problemática.
Por Antéia Orteiro
E
Natália Simões


Imigração não é um assunto recente. Desde que países começaram a despontar como grandes potências, milhares de pessoas saem de seu lugar de origem a procura de novas oportunidades em locais onde a vida parece ser mais fácil.
Essa movimentação de indivíduos pode acontecer entre diferentes países ou ainda dentro de um mesmo país. No Brasil, por exemplo, onde a desigualdade é tão grande quanto o próprio território do país, é comum que pessoas saiam do nordeste e se desloquem até o sudeste, região mais desenvolvida do país.
Além da imigração dentro de um mesmo país, é ainda mais comum a imigração ilegal entre diferentes países. Os Estados Unidos recebem diariamente milhares de imigrantes ilegais que tentam superar as fronteiras em busca de melhores condições de vida. A maioria desses imigrantes são latinos e tentam entrar no país passando pelo México. Para isso, se submetem a grupos instalados nas fronteiras que cobram grandes quantias para atravessá-los em péssimas condições. Há nos Estados Unidos grandes movimentos de imigrantes que lutam para serem legalizados.
O problema é que essa migração causa grandes conseqüências nos centros urbanos. Os imigrantes, constantemente, não encontram exatamente aquilo que desejavam e continuam nas mesmas condições - ou ainda piores. Assim, aumenta o índice de desabrigados e aumenta a desigualdade nas grandes cidades. A solução para esse problema seria um investimento, um suporte financeiro do governo que suprisse as mínimas necessidades humanas para que não se mostrasse necessário a esses imigrantes mudar-se para outras regiões.
Segundo um estudo divulgado pelo Centro de Estudos sobre Imigração dos EUA, a cada ano, cerca de 1,6 milhão de imigrantes se estabelecem no país; até 2060, quando o país chegar a 468 milhões de habitantes, os imigrantes somarão 105 milhões. O presidente dos EUA, George W. Bush, afirma ser favorável a uma proibição permanente de ingresso no país de imigrantes ilegais. Nas novas propostas para reforma da lei imigratória, Bush defende a idéia de que aquele que for pego cruzando ilegalmente a fronteira, não só será deportado como será proibido de entrar novamente no país por toda a vida. Tais declarações provocam grandes manifestações de migrantes, tanto aqueles que conseguiram se estabilizar quanto aqueles que ainda sonham com tal legalização.


Elvira Arellano, deportada mês passado de volta para o México. Fonte: AFP,http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2007/08/070820_imigrante_mexico_mv.shtml>BBC Brasil

Ultimamente, o foco desse tema tem ficado no caso da mexicana Elvira Arellano, que lutava para permanecer nos EUA com seu filho e foi deportada. O caso tomou proporções mundiais após Arellano ter ficado refugiada durante um ano em uma igreja em Chicago para que não se separasse de seu filho Saul, de oito anos, e cidadão americano. A repercussão do caso fez com que Saul fosse ao Congresso mexicano fazer um apelo pessoal para que o processo de deportação da mãe fosse interrompido. Porém, autoridades americanas disseram que, para evitar que a família fosse separada, a mãe deveria levar o filho com ela para o México.

Mexicanos nos EUA

Um estudo da Academia Nacional de Ciências mostra que os níveis atuais de imigração, considerando-se tanto legais como ilegais, não se aproxima do número alcançado entre 1850 e 1930. Durante essa fase, a busca por construir uma vida no Novo Mundo fez com que houvesse um grande número de imigrações européias para os Estados Unidos. Apesar da busca pela ascensão não ter se realizado, e a maioria dos imigrantes terem permanecido nas classes mais baixas, seus descendentes conseguiram se tornar americanos comuns, casados com outros grupos étnicos, pertencentes à classe média e de idioma inglês.
Hoje, por outro lado, os imigrantes já não se consideram parte do grupo étnico. Segundo Samuel P. Huntington, professor da Universidade de Harvard, os mexicanos, particularmente, acabam sobrecarregando as fronteiras e o mercado americano, e a aceitação da imigração já não acontece. A não-incorporação dos imigrantes europeus, segundo Huntington, pode gerar uma sociedade latina separada, com valores e culturas distintos.
As diferenças culturais entre os mexicanos-americanos e o restante da sociedade americana é o motivo pelo qual algumas pessoas são contra a imigração mexicana nos EUA. A expressão “inferioridade cultural” seria, para a maioria da população norte-americana, e para todos aqueles que criticam a imigração, o motivo pelo “preconceito”.
Muitos estadunidenses dizem ser contra o investimento financeiro do governo em imigrantes pois as diferenças persistirão com o tempo, já que os imigrantes que vão para os Estados Unidos levam, em sua maioria, mulheres e crianças que se recusam a adotar a cultura americana.
Por outro lado, um artigo do American Journal of Political Science de 1996 aponta dados para a predoninância de mexicanos bilíngues nos EUA, que teriam a mesma paixão pelos Estados Unidos do que pelo seu país nativo. Porém, por mais que esses imigrantes, legais ou não, tentem preservar sua cultura nativa, acabam se adaptando, no sentido de aprender a língua inglesa e absorver a cultura para conseguir ascender socialmente.


O muro no méxico

Uma medida contra o forte fluxo imigratório nos EUA foi a aprovação, pela Câmara norte-americana, em 15 de dezembro de 2005, com 260 votos a favor e 159 da construção de um muro na fronteria entre os Estados Unidos e o México. A barreira, além de conter o tráfico de drogas e a entrada de terroristas no solo americano, visa, principalmente, evitar episódios como o 13 de janeiro de 2001, onde mais de 2 mil imigrantes morreram na fronteira entre os dois países.
O muro, que terá 1.100 quilômetros de comprimento, detectores de movimento e iluminação noturna, está avaliado num custo de US$ 6 bilhões (R$ 12,9 bilhões), e será realizado nos Estados da Califórnia, Arizona, Novo México e Texas.
O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, assinou a lei poucas semanas antes das eleições de sete de novembro. Para ele a construção do muro significará um passo importante para o aumento da segurança de fronteira, pois a imigração ilegal vem aumentando por não terem controle total de suas fronteiras. Durante a cerimônia, Bush afirmou: “Temos a responsabilidade de assegurar a segurança em nossas fronteiras. Levamos essa responsabilidade a sério.” A opinião pública americana vêm se mostrando favorável á isso.
Membros do Conguate (Coalisão de Imigrantes Guatemaltecos) estão reunindo assinaturas de imigrantes latino-americanos que moram nos EUA para impedir a realização do projeto, para entregar a lista de assinaturas à senadora democrata Diane Feinstein (Califórnia). Assim, ela poderá votar contra a lei Sensenbrenner, que irá autorizar a construção do muro nas fronteiras e penalizará quem admitir empregos para imigrantes ilegais.
Segundo a antropóloga Elizabeth Brandt, da Universidade do Arizona, esta atitude é proveniente de um sentimento anti-imigrante, e “já que os imigrantes ilegais terão mais dificuldades em chegar aos Estados Unidos, isso irá afetar a indústria agrícola e de construção, que depende dessa mão de obra".
Para o bispo auxiliar do Distrito Federal mexicano, monsenhor Gregorio Rosa Chávez, o projeto irá dividir o mundo entre opostos (norte e sul, pobres e ricos), por isso se trata de uma ofensa à dignidade humana.
A barreira vem sendo comparada ao muro de Berlim, na Alemanha, destruído em 1989. Muitas críticas surgiram com a aprovação do projeto. A Associação de Xerifes do Estado americano, o governador do Texas, Rick Perry e Janet Napolitano, governadora do Arizona, são contra à medida. Napolitano afirmou que "no momento em que for construído um muro de 15 metros, alguém construirá uma escada de 15,5 metros".

Fontes consultadas:

matérias diversas sobre o tema "imigração" em:
Folha de São Paulo
O Estado de São Paulo
BBC Brasil

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